Em meados de 2023, pensei muito em como poderia começar a escrever sobre o meu processo criativo, como forma de autoanálise e de aprendizado para escolher as palavras certas para sentimentos tão abstratos, e me veio a ideia de um blog.
Em tempos de vídeos de 30 segundos e algoritmos, talvez eu esteja indo um pouco na contramão, mas tive bom exemplos que me fizeram guardar esse desejo para o momento certo, então persisti na ideia e cá estamos!
Pretendo escrever quinzenalmente, como um balanço de tudo o que estou produzindo, novidades sobre a minha pesquisa, exposições, bastidores do ateliê e as peculiaridades dessa jornada de ser artista no interior de Minas.
Bom, falando nisso, acho que posso (re) começar por aqui! Deixe eu me apresentar.
Nasci na cidade de São João Nepomuceno, a cidade garbosa, afamada por seu polo têxtil e o carnaval de rua. Hoje restaram resquícios dessa época com algumas fábricas de roupas ativas e muitas confecções e costureiras informais. O carnaval? Os tempos de ouro ficaram na memória! Ah! Temos também um dialeto próprio, o Pompeu e Godê, falado por alguns habitantes da velha-guarda e repassado por gerações.
Gerada por uma mãe costureira e um pai mecânico de máquinas de fiação de fios têxteis, a fruta não cai muito longe do pé, me formei estilista.
É surpreendente como somos alimentados pelo lugar em que fomos criados, a sua casa, o seu bairro, a sua cidade, o seu país.
Atualmente, busco entender nos meus processos criativos como se dá essa interferência, de onde vem o meu desejo por criar arte, criar algo com as mãos.
Ainda perto da árvore, vejo esse desejo semeado através dos meus pais, pessoas que têm essa sabedoria nas mãos, não só na profissão formal, mas no manejo em consertar coisas, cozinhar, cuidar de hortas e plantas. Existe muita criatividade e sensibilidade em pessoas que criam algo com as mãos.
Hoje, o mercado da arte, parece muito distante do fazer manual, do artesão, mas não podemos esquecer que essas são suas origens. O cenário artístico passou por muitas transformações, acredito que uma grande mudança foi a valorização do processo intelectual acima do objeto em si.
Como fruto desse tempo, mas carregando minha cultura e ancestralidade, cultivo muita admiração pelas técnicas manuais e tento de alguma forma resgatá-las e subvertê-las inserindo linhas e bordados em pinturas à óleo.
Acredito que essa seja a minha forma de contar minha história, a história das minhas origens.
Obrigada por me acompanhar nessas linhas de coração aberto!
A escrita é uma amiga de longa data, te encorajo a tentar também, têm coisas que só conseguimos "falar" para uma folha em branco.
Um beijo enorme e até a próxima!
Samara Danelon
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