Em novembro do ano passado, confrontei a menina medrosa com a mulher corajosa que me tornei.
Parti para o norte da Europa, com meus quadros, minha mala e um sonho: participar de uma exposição de arte na Suécia e me virar por uma semana, sem falar sueco ou inglês.
Fui expor duas obras da série de pinturas "O paradoxo do pássaro livre" em Estocolmo, "Gaiola ancestral" e "Como matar um passarinho".
A exposição coletiva, uma parceria entre a Embaixada do Brasil e a Embaixada da Argentina, teve como tema o Dia Internacional de Combate à Violência Contra Mulheres e Meninas, comemorado no dia 25 de novembro.
Desde 2023 venho pesquisando sobre a opressão feminina, buscando respostas na história, na mitologia, na psicologia e, claro, na minha própria vivência.
Enquanto me preparava para a viagem fui questionada muitas vezes se iria sozinha, também me questionei, e me perguntei, "se eu fosse homem seria questionada disso?", eu sei que a resposta é não!
Mapeei os riscos, me preparei como se fosse morar lá. Há muitos anos, entendi algumas fraquezas e desde então tento fazer tudo diferente do que eu naturalmente faria (risos). Fui com medo mesmo!
Revisitando as fotos, só consigo lembrar da sensação de realização que senti a todo instante, orgulhosa de mim, feliz em cada pequena conquista.
A oportunidade de levar o meu trabalho para o exterior foi incrível, mas eu estaria sendo muito simplista se dissesse que esse foi o ponto auge da minha experiência, principalmente dentro do contexto que eu estava envolvida. A memória que vou guardar é da coragem de me desafiar a ser artista depois dos 30, de ser uma mulher que viaja sozinha e que busca realizar seus sonhos.
A ideia de "memória" anda ressoando em mim de uma forma diferente desde que li o romance japonês "A lanterna das memórias perdidas" (inclusive indico a leitura). Resumindo muito, entre a vida e a morte, cada pessoa teria o direito de revisitar suas lembranças através de uma foto de cada dia, de todos os anos vividos, e escolher uma foto por ano para criar um caleidoscópio.
Isso me fez pensar sobre como precisamos viver coisas que valham à pena, que tenham valor para nós, porque no peso dos anos e no fim, inevitável, vamos ser apenas nós com nossas memórias.
Durante essa curta aventura na Escandinávia também conheci a história de outras mulheres e pude sentir a união que estabelecemos através da nossa brasilidade. Somos um povo muito alegre e hospitaleiro e estar entre os meus, fez com que essa experiência fosse muito mais leve e divertida. E pude comemorar meus 33 anos, longe de casa, mas muito feliz e acolhida, brindando com cava!
Escolhi começar compartilhando uma visão sensível e pessoal, que ainda está fresca na minha memória, não gostaria de perder essa oportunidade de, quem sabe, te inspirar à acordar sonhos guardados na gaveta.
Em breve irei escrever outros posts sobre esse voo na cultura nórdica, mas por hoje é só.
Com amor e coragem
Samara
Linda, vc é exemplo como profissional e mulher!